Capítulo 1 de “Introdução aos Estudos Históricos”

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A pesquisa de documentos (heurística)

A história se faz com documentos. Os documentos são vestígios deixados pelos pensamentos e atos das pessoas do passado. Entre os pensamentos e atos humanos, são poucos os que deixam vestígios visíveis, e esses, assim que são produzidos, raramente são duradouros: um mínimo acidente pode apagá-los. Todo pensamento ou todo ato que não deixa vestígios, diretos ou indiretos, ou cujos vestígios acabam por desaparecer, estão perdidos para a história; é como se jamais tivessem existido. Sem documentação, imensos períodos do passado da humanidade serão sempre desconhecidos. Não se pode substituir os documentos: sem documentos, sem história.

Para associar adequadamente um documento com o fato que é seu vestígio, devem ser adotadas numerosas precauções, indicadas mais adiante. Mas, sem dúvida, previamente a qualquer exame crítico e a qualquer interpretação de documentos, coloca-se a questão de sabermos se existem documentos, e caso existam, quantos são e onde estão. Se imaginamos investigar certo acontecimento na história1, seja ele qual for, começaremos por nos informar sobre o lugar ou lugares onde estão os documentos necessários para estudá-lo, supondo que existam. Buscar e encontrar os documentos são a primeira parte, e uma das principais, do ofício de historiador. Na Alemanha recebe o nome de heurística (Heuristik), termo conveniente por sua brevidade. É necessário demonstrar a importância capital da heurística? Não, sem dúvida. É evidente que, se não for corretamente praticada, quer dizer, se não se consegue encontrar, antes de iniciar uma pesquisa histórica, todas as referências disponíveis, aumentam-se bastante as chances (já numerosas, de toda maneira) de trabalhar a partir de dados insuficientes: obras de erudição ou história, preparadas conforme as normas metodológicas mais exatas, seriam prejudiciais, quando não inteiramente inúteis, por conta da simples circunstância material de que o autor desconhecia documentos que deveria ter à mão (e ficaria feliz em tê-los), que poderiam ter ilustrado, complementado ou desacreditado aqueles que utilizou. Considerando-se a igualdade nas demais situações, a superioridade dos eruditos e historiadores de hoje frente aos de séculos passados reside no fato de que estes últimos não dispunham de tantos recursos para se manter tão bem informados como existem na atualidade2. A heurística, de fato, é hoje muito mais fácil que em outras épocas, ainda que o bom Wagner esteja correto quando afirma:

Wie schwer sind nicht die Mittel zu erwerben

Durch die man zu den Quellen steigt3.

Começaremos por explicar por que a tarefa de estabelecer a documentação de maneira adequada continua sendo árdua, mesmo diante dos progressos realizados nos últimos cem anos; e como esta tarefa fundamental poderia ser simplificada por novos progressos.

I. Aqueles que, pela primeira vez, buscaram escrever uma história partindo das fontes, depararam-se com uma situação embaraçosa. Deveriam recontar os acontecimentos recentes, cujas testemunhas ainda viviam? Havia o recurso de entrevistar as testemunhas sobreviventes. Tucídides, Froissart e muitos outros, da Antiguidade até nossos dias, seguiram esse procedimento. Quando o historiador da costa do Pacífico, H. H. Bancroft, propôs-se a reunir uma documentação sobre determinados eventos, dos quais muitos protagonistas ainda viviam, não poupou gastos, e ergueu um exército de colaboradores para que iniciassem conversas com eles4. Mas, como fazer no caso de acontecimentos antigos, dos quais as testemunhas não mais vivem, e a tradição oral não tenha preservado qualquer memória? Não caberia outro meio senão reunir todo tipo de documentos, preferencialmente escritos, relativos ao passado longínquo que se pretendia estudar. Algo difícil, posto que as bibliotecas eram raras, os arquivos secretos, e os documentos estavam dispersos. H. H. Bancroft, que se encontrava, por volta de 1860, na Califórnia, em situação semelhante a de nossos primeiros historiadores, agiu da seguinte maneira: sendo rico, acabou adquirindo, sem se importar com valores, todos os documentos que se achavam à venda, impressos ou manuscritos; negociou com famílias ou empresas em dificuldades financeiras para a compra de seus arquivos, ou buscou autorização para que fossem copiados por seus auxiliares. Isso feito, armazenou sua coleção em um edifício construído para este propósito, organizando o que havia conseguido. Teoricamente, nada mais racional. Mas este procedimento eficiente, característico dos estadunidenses, com o espírito empreendedor e o conjunto de recursos que asseguraram seu êxito, não seria possível de ser aplicado em todas as situações; além disso, em diferentes lugares ou momentos teria sido simplesmente inviável. Em qualquer outro lugar, as coisas teriam se passado de forma diferente.

Na época do Renascimento, os documentos da Antiguidade e da Idade Média se achavam dispersos em um sem número de bibliotecas particulares e uma quantidade infinita de arquivos, muitos inacessíveis, sem mencionar aqueles que seguiam clandestinamente sem que ninguém suspeitasse de sua existência. Era uma tarefa materialmente impossível encontrar um inventário completo dos documentos úteis sobre um tema específico (por exemplo, a lista dos manuscritos conservados de uma obra antiga); e se por um milagre fosse possível obter essa lista, a consulta aos documentos teria exigido viagens e gastos intermináveis. As consequências são fáceis de prever. 1ª: A heurística lhes impunha dificuldades insuperáveis; os primeiros estudiosos e historiadores trabalharam não com todos os documentos, nem mesmo com os mais significativos, mas com aqueles que conseguiam encontrar, de modo que muitas vezes estiveram mal informados, e suas obras não têm interesse para nós senão na medida em que registraram documentos hoje perdidos. 2º: Os primeiros estudiosos e historiadores relativamente bem informados foram aqueles que, por conta de sua profissão, tiveram acesso a bons arquivos: bibliotecários, arquivistas, religiosos, magistrados, cuja Ordem ou Associação contava com bibliotecas e arquivos significativos5.

É verdade que logo surgiram colecionadores que, apelando ao dinheiro, quando não a procedimentos mais questionáveis, como o furto, formaram, com objetivos mais ou menos científicos, seus próprios “gabinetes”, coleções de cópias e documentos originais. Mas tais colecionadores europeus, bastante numerosos a partir do século XV, eram muito diferentes de H. H. Bancroft. De fato, nosso californiano não recolheu senão documentos específicos de um assunto particular (a história de determinados Estados do Pacífico), e teve a ambição de organizar todos; a maior parte dos colecionadores europeus reuniu vestígios, fragmentos de todos os tipos e um pequeno número de documentos, se compararmos com o colossal volume que existia naquele tempo. Além disso, não foi, em geral, pelo desejo de colocá-los em domínio público que os Peiresc, Gaignières, Clairambault, Colbert, e tantos outros, retiraram de circulação documentos que corriam o risco de se perder: contentavam-se (o que já era louvável) em compartilhar, de forma mais ou menos altruísta, com amigos. Mas o humor dos colecionadores (e de seus herdeiros) é volúvel, e mesmo excêntrico. É certo que é preferível que os documentos estejam em coleções privadas que expostos a todo tipo de riscos e furtados por completo à pesquisa científica; mas para que a heurística seja verdadeiramente facilitada, a primeira condição é que todas as coleções de documentos sejam públicas6.

Agora, as melhores coleções particulares de documentos – de bibliotecas e museus – estavam naturalmente, desde o Renascimento, nas casas reais da Europa. Dos tempos do antigo regime, as coleções reais permaneceram em sua maioria abertos, ou entreabertos, ao público. E enquanto as demais coleções eram com frequência vendidas quando seus proprietários faleciam, aquelas, por outro lado, não cessaram de se enriquecer: enriqueceram justamente com os restos das demais. O Gabinete de Manuscritos da França, por exemplo, formado pelos reis da França e colocados por eles à disposição do público, tinha, em fins do XVIII, absorvido a melhor parte das coleções reunidas por amadores e eruditos durante os dois séculos precedentes7. O mesmo aconteceu em outros países. A concentração de um grande número de documentos históricos, em instituições públicas ou semi-públicas, foi o feliz resultado desse processo espontâneo.

Ainda mais favoráveis e benéficas para a melhoria das condições materiais da pesquisa histórica foram as ações revolucionárias. Na França, a Revolução de 1789, bem como movimentos análogos em outros países, buscou o confisco, pela violência e em benefício do Estado, ou seja, de todo mundo, de uma grande quantidade de arquivos e coleções particulares: arquivos, bibliotecas e museus da coroa, arquivos e bibliotecas de conventos e corporações desaparecidas, etc. Entre nós, em 1790, a Assembleia Constituinte colocou nas mãos do Estado uma quantidade prodigiosa de depósitos de documentos históricos até então dispersos, e guardados da curiosidade dos pesquisadores; essas riquezas foram mais tarde organizadas em diferentes organismos nacionais. Este mesmo processo se repetiu mais recentemente, em menor escala, na Alemanha, Espanha e Itália.

Nem as coleções do antigo regime, nem os confiscos revolucionários foram realizados sem perdas significativas. O colecionador é, ou muito frequentemente foi, um bárbaro que não hesitava, para enriquecer sua coleção com exemplares ou amostras raras, em mutilar monumentos, arrancar a folhas de manuscritos, mudar de lugar folhas de arquivos, visando se apropriar de certos fragmentos. Numerosos vandalismos semelhantes foram cometidos antes da Revolução. As ações revolucionárias, de confiscos e transferências, produziram também, naturalmente, consequências desastrosas: além da destruição pela negligência, ou mesmo pelo mero prazer de destruir, teve-se a ideia de fazer uma seleção sistemática dos documentos, e de não conservar nada além daqueles que fossem “interessantes” ou “úteis”, desprezando o resto. Essa atividade de seleção foi realizada por indivíduos animados de boas intenções, mas incompetentes e sobrecarregados, o que os levou a perpetraram estragos irreparáveis nos antigos arquivos: na atualidade são realizados trabalhos que buscam (e que devem demandar um longo tempo, além de paciência, e cuidado) recompor os documentos dispersos, e devolver a seus locais os fragmentos separados pelo cuidado irrefletido daqueles que então manipularam, inclusive com brutalidade, os documentos históricos. Deve-se reconhecer que as mutilações causadas pelos colecionadores do Antigo Regime e pelas ações dos revolucionários são insignificantes se as compararmos com as produzidas pelos acidentes fortuitos e a ação natural do tempo. Fossem aquelas ações dez vezes mais graves, seriam totalmente compensadas por duas consequências bastante positivas, cuja importância não é demais destacar: 1º, a concentração, em um número relativamente reduzido de arquivos, de documentos até então dispersos, e dados como perdidos, em centenas de locais diferentes; 2º, o caráter público de tais arquivos. Desde então, aqueles antigos documentos históricos, em que pesem as destruições devidas à má sorte e ao vandalismo, encontram-se por fim em locais seguros, classificados, colocados à disposição do público, e tratados como parte de um patrimônio social.

Os documentos históricos antigos estão então hoje reunidos e conservados, em princípio, nos organismos públicos que denominamos arquivos, bibliotecas e museus. Na verdade não estão lá todos os documentos que existem, posto que, a despeito das constantes aquisições que a cada ano são realizadas, além das doações que arquivos, bibliotecas e museus vêm recebendo anualmente há um longo tempo, existem ainda coleções privadas, antiquários que comercializam documentos, e documentos que estão em circulação. Mas a exceção, cujo volume é negligenciável, não é, aqui, a regra. Todos os documentos antigos, em quantidade limitada, que ainda estão em circulação, acabarão, cedo ou tarde, em instituições do Estado, cujo proprietário compra sempre, mas jamais vende8.

Em princípio é desejável que os lugares onde se guardam os documentos (arquivos, bibliotecas e museus) não sejam numerosos, e já dissemos que, felizmente, hoje são em muito menor quantidade se compararmos com centenas de anos atrás. A centralização de documentos, cujas vantagens para os pesquisadores são evidentes, não poderia ser ampliada? Não é verdade que existem ainda coleções de documentos para os quais é difícil justificar sua existência independente? Possivelmente9; mas o problema da centralização dos documentos não é grave nem urgente, por conta do aperfeiçoamento dos métodos de reprodução, e sobretudo após os inconvenientes da existência de uma multiplicidade de arquivos fossem em parte solucionados pela estratégia, atualmente usual, de permitir que os documentos se desloquem de um lugar a outro: é possível consultar, sem custo, na biblioteca pública da própria cidade onde se reside, documentos pertencentes a bibliotecas de São Petersburgo, Bruxelas ou Florença, por exemplo; cada vez mais raras são as instituições, como é o caso dos Arquivos Nacionais de Paris, do Museu Britânico de Londres ou da Biblioteca Méjanes de Aix-em-Provence10, cujos estatutos proíbem categoricamente a retirada de seus documentos.

II. Posto que a maior parte dos documentos históricos está conservada hoje em instituições públicas (arquivos, bibliotecas e museus), a heurística seria extremamente facilitada se existissem bons inventários descritivos para todas as coleções de documentos, se catálogos fossem fornecidos com índices gerais, ou se repertórios (alfabéticos, sistemáticos, etc.) estivessem relacionados a eles; em uma palavra, se fosse possível consultar em qualquer lugar a colação completa de tais documentos e seus correspondentes índices. Entretanto, a heurística é ainda extremamente penosa, porque estas condições ainda estão bastante longe de terem sido realizadas a contento.

Em primeiro lugar, há depósitos de documentos (arquivos, bibliotecas e museus) cujo conteúdo nunca foi, nem mesmo parcialmente, catalogado, de modo que ninguém sabe o que há neles. São raros os depósitos de que possuímos catálogos descritivos completos; preservadas em importantes instituições, existem muitas coleções que só foram catalogadas em parte, e a maior parte delas ainda está para ser descrita11. Em segundo lugar, existe uma imensa variedade de catálogos! Existem modelos antigos que já não correspondem à atual classificação de documentos, e que não podem ser utilizados sem tabelas de consulta; existem novos catálogos, que são igualmente baseados em sistemas obsoletos, sendo alguns muito detalhados enquanto há outros muito sumários; alguns são impressos, outros manuscritos, em fichas ou folhas de registros; alguns são produzidos com todo cuidado, mas outros tantos são imperfeitos, inadequados e provisórios. Considerando-se os catálogos impressos, é necessária toda uma aprendizagem para que se possa aprender a diferenciar, nesta enorme massa de confusão, o que é confiável e o que não é; em outras palavras, para que possam ser usados de alguma maneira. Por último, onde estão os catálogos existentes para serem consultados? A maioria das grandes bibliotecas só possui coleções incompletas; não existe qualquer guia geral.

Esta é uma situação deplorável. Na verdade, os documentos contidos em depósitos e coleções que não estão catalogados acabam sendo, na prática, inexistentes para pesquisadores, que não têm tempo livre para pesquisar a totalidade de seus conteúdos por si mesmos. Como dissemos anteriormente: sem documentos, sem história. Mas a inexistência de bons catálogos descritivos significa, na prática, a impossibilidade de descobrir a existência de documentos senão por mero acaso. Percebemos que o progresso da história depende, em grande medida, do andamento do catálogo geral de documentos históricos que ainda é fragmentário e imperfeito. Sobre este ponto, há um consenso geral. Bernard de Montfaucon considerou sua Bibliotheca bibliothecarum manuscriptarum nova, uma coleção de catálogos de bibliotecas, como “o trabalho mais útil e mais interessante que produziu em toda a sua vida” 12. “No estado atual da ciência”, escreveu Renan em 1848, “nada teria mais urgência que um catálogo crítico dos manuscritos nas diferentes bibliotecas […] uma tarefa aparentemente humilde; […] e, ainda assim, as pesquisas dos estudiosos são difíceis e incompletas por conta da pendência da sua conclusão definitiva” 13. “Teríamos melhores livros sobre a nossa literatura antiga”, diz Meyer 14, “se os antecessores de Delisle [na sua qualidade de administrador da Bibliothèque Nationale de Paris] tivessem se aplicado com igual ardor e diligência à catalogação dos tesouros deixados a seus cuidados”.

Convém indicar brevemente as causas e as respectivas consequências exatas de um estado de coisas que tem sido lamentado há tanto tempo, embora esteja melhorando, ainda que lentamente. “Garanto a vocês”, disse Renan15, “que com algumas poucas centenas de milhares de francos aplicadas, por um Ministro da Instrução Pública, ao propósito [de preparar catálogos], seriam melhor empregadas do que três quartos da soma atualmente dedicada à literatura”. É raro encontrar um ministro, na França ou em qualquer outro lugar, convencido desta verdade, e que esteja decidido a agir em função dela. Além disso, nem sempre seria correto afirmar que, a fim de obter bons catálogos, seria suficiente, bem como necessário, fazer um sacrifício pecuniário: só recentemente é que os melhores métodos de descrever documentos foram definitivamente fixados; a tarefa de recrutar trabalhadores competentes – sem grande dificuldade hoje em dia – não teria sido nem fácil nem livre de ansiedade em uma época em que esses trabalhadores eram mais raros do que são agora. Esses são os obstáculos materiais – falta de dinheiro e falta de pessoal. Mas, razões de outro gênero influenciaram. Os funcionários encarregados da administração de depósitos de documentos nem sempre exibiram o zelo que agora demonstram para tornar suas coleções acessíveis por meio de catálogos precisos. Preparar um amplo catálogo (que seja exato e, ao mesmo tempo sumário) é uma tarefa trabalhosa, ingrata e pouco recompensadora. Muitas vezes tem ocorrido que este funcionário, vivendo em virtude de seu trabalho, estando imerso em documentos que tem a liberdade de consultar a qualquer momento, e colocado em uma posição muito mais favorável que o público, para a utilização da coleção sem o auxílio de um catálogo, ao fazer descobertas, tenha preferido trabalhar por conta própria, ao invés de trabalhar para os outros, e faz da construção do tedioso trabalho de produção de um catálogo uma questão secundária em comparação a suas próprias pesquisas.

Quem são as pessoas que em nossos dias descobriram, publicaram, e anotaram o maior número de documentos? Os funcionários ligados aos depósitos de documentos. Sem dúvida, esta circunstância retardou o desenvolvimento de catálogos gerais de documentos históricos. A situação tem sido esta: as pessoas melhor capacitadas para não necessitar de catálogos eram precisamente aquelas cujo dever era produzi-los.

A imperfeição de catálogos descritivos produz consequências que merecem a nossa atenção. Por um lado, nunca podemos ter certeza de que nós esgotamos todas as fontes de informação; quem sabe o que pode existir nas coleções não catalogadas? 16 Por outro, a fim de obter o máximo de informações, é necessário que estejamos completamente familiarizados com os recursos fornecidos pela existente literatura da heurística, e dedicar uma grande parte do tempo com pesquisas preliminares. Na verdade, todo aquele que se propõe a recolher documentos para a discussão de um tema histórico começa consultando índices e catálogos17. Principiantes realizam esta importante operação tão lentamente, com tão pouca habilidade, e com tanto esforço, que provocam sentimentos de ironia ou piedade nos mais experientes, de acordo com a disposição individual de cada um. Aqueles que se divertem em assistir novatos tropeçando e desperdiçando seu tempo no labirinto dos catálogos, negligenciando o que é valioso, e explorando o que é inútil, devem se lembrar que também eles passaram por situações semelhantes: cada um aprende pela própria experiência. Aqueles que observam com pesar este desperdício de tempo e energia consideram que, embora inevitável até certo ponto, não serve a qualquer bom propósito; perguntam-se se não poderia ser feito algo para tornar mais suportável a gravidade deste aprendizado da heurística, que para eles também foi tão difícil. Além disso, já não é a pesquisa, no estado atual de seus recursos materiais, suficientemente difícil qualquer que seja a experiência do pesquisador? Há estudiosos e historiadores que dedicam a maior parte de suas energias para buscar materiais. Certos ramos da pesquisa histórica, relacionados especialmente a temas medievais e modernos (os documentos de história antiga são em menor quantidade, têm sido mais estudados, e são mais catalogados que os demais), não implica apenas o uso assíduo de catálogos, nos quais nem todos possuem índices, mas também uma investigação pessoal de todo o conteúdo das imensas coleções que são ou mal catalogadas, ou não estão, de nenhuma forma, catalogadas. A experiência demonstra, para além de qualquer dúvida, que a perspectiva destas longas pesquisas, que devem ser realizadas antes que a parte mais intelectual do trabalho possa ser iniciada, tem desencorajado indivíduos de excelente capacidade, e continua a impedir o desenvolvimento do trabalho histórico. Eles são, de fato, confrontados com um dilema: ou trabalham com um conjunto de documentos que é muito provavelmente incompleto, ou deverão desperdiçar muito tempo em buscas intermináveis, muitas vezes infrutíferas, cujos resultados raramente parecem compensar o tempo empregado. É desalentador passar grande parte da vida revirando catálogos sem índices, ou analisar, um após o outro, todos os itens que formam os documentos acumulados em miscellanea não catalogada, a fim de obter alguma informação (positiva ou negativa) que poderia ter sido obtida de forma fácil e instantânea se as coleções fossem catalogadas e se os catálogos tivessem sido indexados.

A principal consequência da presente imperfeição dos materiais para a heurística é o desânimo que, sem dúvida, mantêm-se entre muitos homens capazes que sabem o seu valor, e têm a exata noção da desproporção que existe entre esforço e recompensa18.

Se fosse algo próprio da natureza das coisas que a busca por documentos históricos em depósitos públicos, devesse, necessariamente, ser tão trabalhosa como ainda o é, poderíamos nos resignar à inconveniência: ninguém pensa em lamentar o inevitável gasto de tempo e trabalho que é exigido pela pesquisa arqueológica, independentemente de quais possam ser os resultados obtidos. Mas a imperfeição dos instrumentos modernos de heurística é completamente desnecessária. O estado das coisas era, há alguns séculos, muito pior; não há nenhuma razão válida para que algum dia não possa ser reformada por completo. O que nos leva, depois de termos tratado das causas e das consequências, dizer algumas palavras sobre as soluções.

Os instrumentos de heurística estão sendo continuamente aperfeiçoados, diante de nossos olhos, de duas maneiras. Todos os anos, testemunhamos um aumento no número de catálogos descritivos dos arquivos, bibliotecas e museus, preparados pelos funcionários ligados a estas instituições. Além disso, importantes sociedades científicas buscam contratar especialistas para que cataloguem os documentos existentes em vários depósitos, a fim de escolher todos de um tipo específico, ou relativos a um tema em particular: assim, a sociedade dos Bolandistas produziu um catálogo geral de documentos hagiográficos preparado por seus emissários, e a Academia Imperial de Viena catalogou de maneira semelhante os monumentos da literatura patrística. A sociedade responsável pelos Monumenta Germaniae Historica vem conduzindo, há tempos, importantes pesquisas do mesmo tipo; e foi pelo mesmo processo que pesquisas semelhantes em museus e bibliotecas em toda a Europa que foi tornada possível a confecção do Corpus inscriptionum latinarum. Afinal, diferentes governos decidiram tomar a iniciativa de enviar correspondentes ao estrangeiro com o objetivo de catalogar documentos de seu interesse: assim, agentes da Inglaterra, Holanda, Suíça, Estados Unidos, etc., garantiram subsídios regulares para catalogar e transcrever, nos grandes arquivos europeus, os documentos que se referem à história daqueles e outros países.19 Com que rapidez e perfeição tão úteis tarefas puderam ser realizadas, sempre que, desde o início, fosse providenciado um grupo de pessoas competentes dirigidas de modo eficaz, e que contasse ao mesmo tempo com um investimento adequado: isso é exemplificado pela história do Catalogue général des manuscrits des bibliothèques publiques de France. Este excelente catálogo descritivo iniciado em 1885, alcançou em 1897 quase cinquenta volumes, e logo estará terminado. O Corpus inscriptionum latinarum foi produzido em menos de cinquenta anos. Os resultados obtidos pelos Bolandistas e pela Academia Imperial de Viena não são menos conclusivos. Assegurando-se que nada estará faltando, com exceção de investimentos, assegura-se que em breve os estudos históricos estarão dotados com os instrumentos de pesquisa indispensáveis. Os métodos empregados na construção desses instrumentos está estabelecido, e não será difícil trabalhar com pessoal preparado. Esse pessoal deve ser, evidentemente, em sua maior parte composto por arquivistas e bibliotecários profissionais, mas deverá contar com trabalhadores com uma clara vocação para a confecção de catálogos e seus índices. Esses deverão ser mais numerosos do que se poderia acreditar a princípio. Não que a catalogação seja fácil: requer paciência, atenção escrupulosa aos detalhes e um conhecimento diversificado; mas muitas mentes são atraídas por este tipo de tarefas, por serem exatas, capazes de serem realizadas de um modo perfeito e de manifesta utilidade. Na ampla e heterogênea família dos historiadores, há aqueles dedicados a promover o progresso dos estudos históricos que, preparando índices e catálogos descritivos, constituem um grupo à parte. Quando estão devotados exclusivamente à sua arte, adquirem no desempenho de suas atividades, como seria de se esperar, um alto grau de habilidade.

Ainda que se aguarde pelo reconhecimento de que o momento é oportuno para promover internacionalmente a construção de um catálogo geral de todos os documentos históricos, podemos optar por uma medida temporária: é importante que pesquisadores e historiadores, especialmente os principiantes, conheçam de maneira precisa a situação real dos instrumentos de pesquisa a seu alcance, e sejam regularmente informados sobre qualquer aperfeiçoamento que neles pode ter sido realizado. O acaso e a experiência durante muito tempo foram encarregadas de fornecer essa informação; mas o conhecimento empírico, apesar de seus benefícios, como foi dito, é quase sempre incompleto. Recentemente foi colocada em prática a tarefa de preparação de catálogos de catálogos, críticos e sistemáticos. Não há dúvidas de que poucas tarefas bibliográficas possuem um tal caráter de utilidade geral.

Mas os pesquisadores e os historiadores frequentemente precisam, em relação aos documentos, de informações que, em geral, não aparecem nos catálogos descritivos: eles buscariam descobrir, por exemplo, se tal ou tal documento existe ou não, se já foi criticamente analisado, comentado ou utilizado20. Essas informações só podem ser encontradas nas obras de pesquisadores e historiadores anteriores. Na busca por se familiarizar com tais obras, é preciso recorrer aos “repertórios bibliográficos” propriamente assim chamados, de todos os tipos, elaborados a partir de critérios muito diversos, já publicados. Entre as ferramentas imprescindíveis da heurística, devem ser reconhecidos os registros bibliográficos de literatura histórica, bem como os registros de catálogos de documentos originais.

Fornecer uma relação de todos os registros (registros de catálogos, registros bibliográficos) em conjunto com outros dados com informações apropriadas, que economizem tempo e poupem os estudantes de erros, é o objeto do que poderíamos denominar “ciência dos registros” ou “bibliografia histórica”. Bernheim publicou um primeiro esboço desta disciplina21 que nos aventuramos a ampliar22. O esboço ampliado está datado de 1896: numerosas adições, para não falar de correções, seriam necessárias, pois o registro bibliográfico das ciências históricas está sendo renovado, atualmente, com imensa rapidez. Um livro com os registros à disposição de eruditos e historiadores torna-se, como regra geral, antiquado logo assim que é finalizado.

III. O conhecimento dos registros é útil para todos: toda busca preliminar de documentos é laboriosa para todos, mas não no mesmo grau. Certas partes da história, que há tempos são investigadas, possuem hoje a vantagem de possuir todos os seus documentos descritos, conservados e classificados em grandes publicações especializadas; assim, a respeito de tais épocas, o historiador pode trabalhar a partir de seu escritório. O estudo da história local em geral não obriga a pesquisas além das locais. Muitas monografias importantes são baseadas em um número reduzido de documentos, todos pertencentes a uma mesma coleção, e dada a sua natureza, seria supérfluo ampliar a busca em outros locais. Ao contrário, trabalhos mais modestos, como humildes edições de textos dos quais vários exemplares antigos não são raros, e estão dispersos por bibliotecas da Europa, podem envolver pesquisas, negociações e gastos sem fim. Sendo inédita, ou má editada, a maior parte dos documentos da Baixa Idade Média e da época moderna, pode-se colocar como regra geral que, na busca por uma contribuição significativa em história medieval ou moderna, será necessário frequentar durante um tempo considerável os grandes arquivos de documentos originais, além de despender tempo sobre seus catálogos.

Assim, cada um deve escolher, com o máximo cuidado, o assunto sobre o qual se dispõe a pesquisar, ao invés deixar a decisão à pura sorte. Determinados temas, no estado atual dos recursos documentais, não podem ser abordados senão às custas de enormes pesquisas, nas quais grandes esforços são consumidos com poucos ganhos. Esses temas não são necessariamente mais interessantes que outros, e um dia, talvez amanhã, melhorias dos recursos disponíveis poderão torná-los facilmente administráveis. É necessário que o estudante escolha seu tema de estudo com sensatez e conhecimento entre diferentes temas históricos, de acordo com a existência ou não de inventários de documentos e registros bibliográficos disponíveis; deve-se considerar ainda sua vocação para o trabalho de escritório por um lado, ou a exploração de arquivos, por outro; e deve-se considerar mesmo as condições específicas para o uso de certas coleções em particular. “É possível trabalhar nas províncias?” Renan perguntava durante o Congresso das Sociedades Científicas, em 1889 na Sorbonne; e respondia com inteligência à questão: “Ao menos a metade do trabalho científico pode ser feito do próprio escritório […] Tome a filologia comparada, por exemplo: sem mais que um investimento inicial de alguns milhares de francos e a assinatura de três ou quatro revistas especializadas, um estudante poderia dispor de todas as ferramentas para sua atividade […] Algo semelhante seria possível dizer da filosofia universal […] Muitos campos de pesquisa permitem trabalhar em um ambiente privado, e nos lugares mais remotos”23. Sem dúvida, mas há “raridades, especialidades, pesquisas que exigem toda uma maquinaria poderosa”. Cerca de metade do trabalho pode ser feito a partir de seu escritório, com recursos limitados, mas apenas metade; a outra metade exige ainda uma disponibilidade de meios, com relação a catálogos e documentos, que podem ser encontrados apenas em grandes instituições; frequentemente, inclusive, é necessário visitar várias delas sucessivamente. Resumindo, ocorre com a história algo semelhante ao que acontece com a geografia: em relação a determinadas regiões, dispomos de documentos publicados de maneira bastante completa e bem ordenada, de modo que podemos falar deles sem sair de casa; já no caso de uma região inexplorada ou mal conhecida, a mais insignificante monografia exige um considerável investimento de tempo e energia. É perigoso escolher um tema de estudo, como muitos fazem, sem ter percebido em primeiro lugar a natureza e extensão das pesquisas preliminares que se fazem necessárias; há casos de indivíduos que se mantiveram ocupados durante anos com tais pesquisas, sendo que poderiam ter abordado temas diferentes. Como precauções contra este perigo, que é mais formidável aos mais ativos e entusiasmados iniciantes, um exame das condições atuais da heurística em geral, além de noções de bibliografia histórica, são certamente bastante recomendáveis.

1 Na prática, o mais comum, não é propor e investigar determinado evento sem saber se existe a documentação que permita estudá-lo. Inversamente, um documento encontrado por acaso incita a aprofundar o tema histórico correspondente, e a copiar com tal fim documentos do mesmo gênero.

2 É lamentável ver como os melhores eruditos da Antiguidade arduamente, ainda que de maneira vã, lutaram para resolver dificuldades nas quais jamais haveriam tropeçado se lhes estivesse disponível uma documentação melhor. Mas, nem mesmo a mais perspicaz inteligência pode suprir a falta de determinados recursos materiais.

3 Fausto, ato I, cena 1ª

4 Vide Ch.-V. Langlois, “H. H. Bancroft et Cíe.”, na Revue Universitarie, 1894, I, p. 233.

5 Os antigos eruditos tiveram a percepção das condições em que trabalhavam. Sofriam significativamente com a insuficiência dos meios de pesquisas e de instrumentos de comparação. Alguns fizeram grandes esforços para reunir documentação. A troca abundante de cartas entre esses eruditos, nos últimos séculos, de que nossas bibliotecas conservam preciosos vestígios, são provas disso; bem como memórias de pesquisas científicas e de viagens em busca de documentos que, sob a denominação de iter (iter italicum, iter germanicum, etc.) estavam em voga.

6 Assinalemos de passagem uma aberração pueril, mas muito naturalizada e frequente entre os colecionadores: tendem a exagerar o interesse intrínseco dos documentos que possuem, unicamente porque são os seus. Documentos encontrados casualmente são publicados, com grande luxo de comentários, pelos seus proprietários. Esses mesmos receberiam pouca atenção se fossem casualmente encontrados em um arquivo público. De resto, é apenas a manifestação de uma tendência geral: deve-se cuidar com aqueles documentos que nós mesmos possuímos ou descobrimos, para não inflarmos sua importância.

7 Veja L. Delisle, Le cabinet des Manuscrits de la Bibliotheque Nationole, Paris, 1868-1881. 3 vols. As numerosas histórias de antigos arquivos surgidos recentemente têm como modelo este admirável trabalho.

8 Uma parte considerável de documentos ainda em circulação é resultado de roubos realizados em épocas passadas em instituições do Estado. As precauções adotadas na busca por evitar novas subtrações são hoje significativas e, assim, bastante eficazes. Quanto aos documentos modernos (impressos), as disposições relativas ao depósito legal, adotadas em quase todos os países civilizados, asseguram sua conservação nos arquivos públicos.

9 Sabemos que Napoleão I concebeu o quimérico projeto de reunir em Paris os arquivos da Europa inteira e que enviou para lá arquivos do Vaticano, do Sacro Império, da Coroa de Castela, etc., que mais tarde teve-se que restituir. Está fora de questão, hoje, confiscar arquivos. Mas os antigos arquivos notariais poderiam ser centralizados, como já se faz em alguns países, em espaços públicos. Não se explica por que, em Paris, os ministérios de Assuntos Exteriores, do Exército e da Marinha conservem documentos antigos cujo destino adequado seriam os arquivos nacionais. Seria possível citar um considerável número de anomalias desta espécie, que em alguns casos, não apenas dificultam como, mesmo, impedem a tarefa dos pesquisadores, pois é justamente nos pequenos depósitos, cuja existência é inútil, que encontramos os regulamentos mais restritivos.

10 O serviço internacional de empréstimo de documentos manuscritos funciona de modo regular (e gratuito para o público) na Europa, por meio das embaixadas. Além disso, a maior parte das instituições autoriza empréstimos: esta via é tão segura, e por vezes mais rápida, quanto a diplomática. Nestes últimos anos, os congressos de historiadores e bibliotecários incluíram com frequência em sua ordem do dia o problema do empréstimo (ou da saída das instalações em que se conservam) dos documentos originais. Os resultados obtidos até agora são muito satisfatórios.

11 Estas são, por vezes, grandes coleções que possuem um conjunto considerável de materiais; por isso, é comum a catalogação de pequenos arquivos, que exigem menor trabalho. É pela mesma razão que muitos cartulários curtos e insignificantes foram publicados, enquanto outros, da mais alta importância, por serem volumosos, continuam inéditos.

12 Veja sua autobiografia, publicada por E. de Broglie, Bernard de Mountfaucon et les Bernardins, II, Paris, 1891, p. 323.

13 E. Renan, L’avenir de la science, p. 217.

14 Romania, 1892, XXI, p. 632.

15 Op. cit.

16 H. H. Bancroft, em suas memórias, intituladas Literary industries (Nova Iorque, 1891) analisa com notável perspicácia determinadas consequências práticas das dificuldades da busca de documentos. “Suponha, diz ele, que um pesquisador inteligente decida escrever a história de Califórnia. Procura sem dificuldade uns quantos livros, lê-os, prepara suas notas; tais livros remetem a outros, que consulta nas bibliotecas públicas de sua cidade. Passam-se anos, quando percebe que não conta senão com uma décima parte das fontes necessárias; faz viagens, mantém correspondência, mas ao fim desiste de esgotar a matéria, e consola seu orgulho e sua consciência com a desculpa de que a maior parte dos documentos que não pôde consultar é provavelmente pouco importante, como tantos outros que consultou. Quanto aos jornais e a multidão de registros oficiais do governo dos Estados Unidos que fazem referência a circunstâncias curiosas para uma história californiana, sequer sonhou, se tiver bom senso, em explorá-los; pesquisou uns quantos; sabe bem que cada um de tais campos de investigação demandaria o trabalho de vários anos, e que impor-se como tarefa estudá-los do principio ao fim seria como condenar a si mesmo um trabalho cansativo que jamais terá fim. Em que concerne os testemunhos orais e manuscritos, anotará algumas anedotas inéditas, conforme as conversações; obterá algumas informações novas; encontrará documentos em papeis familiares; utilizará tudo isso nas justificativas de seu livro. Dará com algum ou outro documento curioso nos depósitos do Estado; mas como seriam necessários quinze anos para examinar os recursos desse depósito, se contentará com uma pesquisa superficial. Passa, a seguir, à escrita. Deverá prevenir o público de que não consultou todos os documentos; ao contrário, dará importância a todos que conseguiu encontrar após vinte e cinco anos de trabalho constante…”

17 Alguns dispensam a investigação pessoal e delegam tal tarefa a funcionários; são estes últimos, então, que realizam em seu lugar as buscas indispensáveis. Vemos em Bouvard et Pécuchet como os protagonistas se propõem a escrever a biografia do duque de Angoulême; de fato, “decidiram passar quinze dias na biblioteca municipal de Caen para realizar ali suas pesquisas. O bibliotecário pôs ao seu dispor manuais de história e monografias…”

18 Considerações desenvolvidas na Revue Universitaire, 1894, I, pp. 321 e ss.

19 Sabemos que, quando os Arquivos da Seja Sé foram abertos, vários governos e diferentes sociedades científicas criaram em Roma institutos nos quais os membros estão, em sua maior parte, ocupados em inventariar e publicar os documentos em colaboração com os funcionários do Vaticano. A École française de Roma, o Instituto Austríaco, o Instituto da Prússia, a Missão Polaca, o Instituto da “Goerresgesellschaft”, pesquisadores belgas, holandês, espanhóis, portugueses, russos, etc., realizaram e prosseguem realizando consideráveis trabalhos de organização de inventários.

20 Os catálogos de documentos mencionam ocasionalmente, mas nem sempre, se um determinado documento foi publicado, atualizado ou utilizado. A regra geralmente admitida é que o redator mencione as circunstâncias deste gênero caso as conheça, sem lhe impor a desonesta tarefa de informar-se de todos os casos particulares.

21 E. Bernheim, Lehrbuch der historischen Methode, pp. 196-202.

22 Ch.-V. Langlois, Manuel de bibliographie historique, I, Instruments bibliographiques, Paris, 1896.

23 E. Renan, Feuilles détachées, Paris, 1892, pp. 96 e ss.


 

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