Seção I. Dos Instrumentos de Geração em Homens, com Sua descrição particular.
Embora os Instrumentos, ou partes, da geração em todas as criaturas, com respeito à sua forma exterior, não sejam talvez os mais graciosos, em compensação a natureza colocou sobre eles uma honra mais abundante e muito maior do que em outras partes, ordenando-os a serem os meios pelos quais cada Espécie de Ser deva ser continuada de uma geração para outra. E, portanto, embora um homem ou uma mulher fossem, por meio da generosidade da Natureza, dotados de angélicos semblantes, e da mais exata simetria e proporção de partes que concorriam juntas para a formação da mais perfeita beleza, ainda assim, se fossem Defeituosos nos instrumentos da geração, não seriam aceitáveis, apenas por toda sua beleza, para qualquer pessoa do outro sexo; porque, assim, seriam incapazes de satisfazer as propensões naturais que cada um encontra em si mesmo. E, portanto, como é nosso dever nos familiarizarmos com nós mesmos, e procurarmos as maravilhas de Deus na natureza, eu não preciso fazer qualquer pedido de desculpas por apresentar a anatomia das partes secretas da geração.
A Natureza colocou obviamente à vista o órgão de geração no homem, e ele é chamado Yard[1]; e porque está pendurado sob a barriga, é chamado pênis, algo que fica pendendo. É, em sua forma, longo, redondo e, na parte superior, plano, e consiste de pele, tendões, veias, artérias e nervos, estando assentado sob o Osso Púbis, e construído pela natureza para um duplo trabalho, qual seja, a evacuação de urina e o transporte da semente ao Útero. A urina que evacua é levada a ele através do canal da Versica Urinariæ; e a semente que transporta para o Útero é levada pelo interior da Visiculæ Seminales. A seguir, seremos mais específicos.
Além das partes comuns, como a cutícula, a pele e a Membrana Carnosa, há várias partes internas próprias, das quais há sete, isto é,
Os dois corpos nervosos; o Septo; A Uretra; A Glande; os Músculos; e os Vasos; de cada um deles distintamente, na ordem em que os coloquei; sendo o primeiro, os dois corpos nervosos. São chamados assim por estarem cercados por uma membrana espessa, branca, nervosa, embora sua substância interior seja esponjosa, como consistindo principalmente de veias, de artérias, e fibras nervosas, entrelaçadas como uma rede. E a natureza assim ordenou que, quando os nervos estão repletos de espíritos animais, então o pênis[2] fica estendido e fica ereto; quando cessa o fluxo do espírito, então o sangue e os espíritos restantes são absorvidos ou sugados pelas veias, e assim o Pênis torna-se flexível e murcho.
2. A segunda parte interna é o Septum Lucidum, que é substancialmente branco e nervoso, ou com tendões, e sua função é manter os dois ligamentos laterais ou paralelos e a Uretra.
3. A terceira é a Uretra, que é apenas o canal pelo qual a semente e a urina são transportadas para fora; é, em substância, macia e mole, grossa e nervosa, como o dos ligamentos laterais. Começa no canal da bexiga, mas não brota daí, onde só se une a ela, e assim segue para as glândulas. Tem três buracos no início, o maior deles está no meio, que recebe a urina. Os outros dois são menores, recebendo a semente de cada vaso seminal.
4. A quarta é a Glande, que está no fim do pênis, coberta com uma membrana muito fina, por causa de um Præputium ou Prepúcio que, em alguns casos, cobre quase todo o topo do pênis e, em outros, não; e por ele se movendo para cima e para baixo no ato da cópula, traz prazer tanto para o homem quanto para a mulher. A parte extrema da cobertura, que eu chamo Præputium, é chamada também de præputando, a partir de “corte”, porque os judeus foram ordenados para cortá-lo no oitavo dia. O ligamento, pelo qual é fixado às glândulas, é chamado Frænum, ou Freio.
5. A quinta coisa são os músculos, e estes são quatro em número, sendo dois colocados de cada lado. Estes músculos (que são instrumentos de movimento voluntário, e sem os quais nenhuma parte do corpo pode se mover) consistem: em carne fibrosa que forma seu corpo; de Nervos para as sensações; das veias pelo seu calor vital; e de uma membrana ou pele que os une, e separa um músculo do outro, e são todos eles de carne. Já disse que há dois deles de cada lado; e vou acrescentar agora que um de cada lado é mais curto e mais espesso, e que seu papel é erguer o pênis, de onde passaram a ser denominados de Eretores. E tendo dito que dois deles são mais grossos e mais curtos do que os outros, eu não preciso dizer que os outros dois são mais longos e mais finos; só destaco que a função dos dois últimos é dilatar, ou (se você desejar) abrir as partes inferiores da Uretra, tanto para expelir líquidos quando a semente, e, portanto, são chamados Aceleradores.
6. As sextas e últimas coisas são os Vasos, que consistem de Veias, Nervos e Artérias; dos quais alguns passam pela pele, e são visíveis aos olhos, e outros passam mais por dentro. De fato, as artérias estão dispersas pelo corpo do pênis muito mais do que as veias, e a dispersão é contrária, sendo que a artéria direita vai em direção ao lado esquerdo, e a esquerda para o direito; quanto aos dois nervos, o maior está ligado aos músculos e ao corpo do pênis, e o menor pela pele.
O que eu disse até aqui diz respeito ao pênis, propriamente dito; mas porque há alguns Apêndices a ele pertencentes que, quando se precisam deles, tornam o pênis sem nenhum uso no ato de geração, também será necessário antes de concluir esta seção, dizer algo deles – quero dizer as pedras, ou Testículos, assim chamados, porque testemunham a pessoa ser um homem[3]; sua quantidade e lugar são óbvios; e quanto ao seu uso, neles o sangue trazido pelas artérias espermáticas é elaborado em semente. Têm coberturas ou revestimentos de dois tipos, próprios e comuns; o comum são dois, e revestem ambos os testículos; a mais externa das camadas comuns, consiste na Cuticula, ou pele verdadeira, chamada Escroto, pendurada no abdômen, como uma bolsa; a Membrana Carnosa é a mais interna. As coberturas próprias são também duas; a externa chamada Elithroidis ou Vaginalis, e a interna a Albuginea; no exterior estão inseridos os músculos cremasters; para a parte superior dos testículos são fixados o Epididymides, ou Parastatæ, de onde surge o Vasa Deferentia, ou Ejaculatoria; que, quando se aproximam do canal da bexiga, depositam a semente nas Vesiculæ Seminales, que são cada uma, ou duas ou três delas, como um cacho de uvas, e emitem a semente na Uretra, no ato da cópula. Perto daqueles estão as Prostatæ, que são do tamanho de uma noz, e unem-se ao canal da bexiga. Estes produzem um humor oleoso, escorregadio e salgado, para besuntar a Uretra, e assim protege-la da acrimônia da semente e da urina. Além destes vasos, pelos quais o sangue é transportado para os testículos, ou dos quais a semente é feita, e as artérias espermáticas, há também outros dois; e assim também são as veias que levam ao fim o sangue remanescente, que são chamados venæ spermaticæ.
E, assim, vemos as partes mais nobres do homem,
Para tais as partes da geração serem,
E os que cuidadosamente examinam encontrarão
Cada parte adequada para o uso projetado;
O puríssimo sangue, encontramos, se bem atentamos,
está nos testículos transformado em semente.
Que, pela maioria dos canais apropriados, é transmitido
ao lugar que a Natureza determinou que se encaixasse;
Com maior senso de prazer para excitar
Em combatentes amorosos, mais deleite.
O que Natureza fez deste projeto de trabalho
É ganho e prazer em um ato para unir[4].
[1] Do final da Idade Média ao início da Idade Moderna, “Yard” era, na língua inglesa, uma gíria eufemística para pênis. Todas as notas ao texto foram inseridas pelo tradutor.
[2] Yard, no original. Na maior parte das vezes, o autor se utiliza de “Yard”, e algumas poucas vezes, “Penis”. Para ambos os casos, será utilizada a tradução “pênis”.
[3] Testis, em latim, significa “testemunha”, ou “aquele que atesta”. Testiculus, além de significar “testículo”, é também diminutivo de testis.
[4] No original, em versos rimados.
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