Livro I de “História contra os Pagãos” de Paulo Orósio

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Você irá ler, a seguir, um trecho do Capítulo 1, do Livro I da obra.


Livro Primeiro

1. Quase todos os escritores da história, gregos e latinos, que perpetuaram em suas várias obras os feitos de reis e povos com o objetivo de formar um registro duradouro, começaram suas histórias com Nino, o filho de Belo e rei dos Assírios. De fato, esses historiadores, com suas percepções muito limitadas, querem que acreditemos que a origem do mundo e a criação do homem não tiveram começo. No entanto, afirmam definitivamente que reinos e guerras começaram com Nino, como se a raça humana tivesse existido até então na forma de bestas e de repente, como se estivesse sido sacudida e excitada, tivesse pela primeira vez despertada para uma sabedoria até então desconhecida. De minha parte, no entanto, determinei datar o início da miséria do homem desde o início de seu pecado, tocando apenas alguns pontos, mas brevemente.

De Adão, o primeiro homem, a Nino, a quem chamam de “O Grande” e em cuja época nasceu Abraão, passaram-se 3.184 anos, um período que todos os historiadores desconsideraram ou não conheceram. Mas de Nino, ou de Abraão, para César Augusto, isto é, ao nascimento de Cristo, que ocorreu no quadragésimo segundo ano do governo de César, quando, na conclusão da paz com os partos, os portões de Jano foram fechados e cessaram as guerras em todo o mundo, passaram-se 2.015 anos. Durante este último período, quer se considere as ações dos homens ou os historiadores, os trabalhos de todos eles, tanto os literários quanto os ativos, foram generosamente gastos. Meu tema, portanto, requer uma breve menção de pelo menos alguns fatos desses livros que, em sua narrativa da origem do mundo, ganharam credibilidade pela exatidão com que suas profecias mais tarde foram cumpridas. Eu usei esses livros não porque tenho a intenção de lançar sua autoridade sobre alguém, mas porque vale a pena repetir as opiniões comuns que todos nós compartilhamos.

Em primeiro lugar, sustentamos que, se o mundo e o homem são dirigidos por uma Divina Providência que é tão boa quanto justa, e se o homem é ao mesmo tempo fraco e teimoso devido à mutabilidade de sua natureza e seu livre arbítrio, então é necessário que o homem seja guiado no espírito de afeto filial, quando necessita de ajuda; mas quando abusa de sua liberdade, deve ser repreendido com um estrito espírito de justiça. Todos os que veem a humanidade refletida através de si mesmos e em si mesmos percebem que este mundo tem sido disciplinado desde a criação do homem, alternando períodos de bons e maus momentos. Em seguida, somos ensinados que o pecado e sua punição começaram com o primeiro homem. Além disso, até mesmo nossos oponentes, que começam com o período intermediário e não mencionam as idades anteriores, descreveram apenas guerras e calamidades. O que mais são essas guerras, senão males que acontecem de um lado ou de outro? Aqueles males que existiram então e, até certo ponto, existem agora, eram sem dúvida pecados palpáveis, ou punições ocultas pelo pecado. O que, então, nos impede de iniciar esta história, cujo corpo principal foi estabelecido por outros, e de demonstrar, em resumo, que o período anterior, como nós destacamos, cobria muito mais séculos que o segundo, e sofreram o mesmo tipo de misérias?

Falarei, portanto, do período desde a criação do mundo até a fundação da Cidade , e depois do período que se estende ao principado de César e o nascimento de Cristo, do qual o domínio do tempo sobre o mundo permaneceu nas mãos da Cidade até os dias atuais. Tanto quanto deles me lembro, vendo-os como se estivesse em uma torre de vigia, apresentarei os conflitos da raça humana e falarei sobre as diferentes partes do mundo que, incendiadas pela chama da ganância, agora ardem com seus males. Com isto em mente, acredito que devo descrever primeiro o mundo em si, habitado pela raça humana, como foi dividido por nossos ancestrais em três partes, e quais regiões e províncias compõem suas divisões. Desta maneira, quando os teatros de guerra e os estragos das doenças forem descritos, quem desejar poderá obter mais facilmente um conhecimento não apenas dos eventos e de suas datas, mas também de sua geografia.

2. Nossos anciãos fizeram uma divisão tríplice do mundo, que é cercada em sua periferia pelo oceano. Suas três partes denominaram Ásia, Europa e África. Algumas autoridades, no entanto, consideraram-nas como duas, isto é, a Ásia, a África e a Europa, agrupando as duas últimas como um único continente.

A Ásia, cercada em três lados pelo oceano, se estende por todo o Oriente. Para o oeste, à sua direita, toca a fronteira da Europa perto do Polo Norte, mas à sua esquerda se estende até a África, exceto que perto do Egito e da Síria é delimitada pelo Mare Nostrum, que comumente chamamos de Grande Mar.

A Europa começa, como já disse, no norte do rio Tanais, onde as Montanhas Rifeanas, estando trás do Mar Sármata, empurram as águas do Tanais. O Tanais, banhando os altares e as fronteiras de Alexandre, o Grande, aos territórios dos Robascos, eleva as águas do Palus Meótis, cujo imenso escoadouro se espalha ao Euxino, próximo a Teodósia. Do Euxino, perto de Constantinopla, uma longa e estreita massa de água leva ao mar que chamamos de Mare Nostrum. O Oceano Ocidental forma a fronteira da Europa na Hispânia no mesmo ponto em que os Pilares de Hércules estão próximos às Ilhas Cádiz e onde a maré do Oceano entra no estreito do Mar Tirreno.

A África começa com a terra do Egito e a Cidade de Alexandria. Na costa daquele grande Mar, cujas águas banham todos os continentes e as terras no centro da terra, encontramos a Cidade de Paretônio. De lá, as fronteiras da África levam através dos distritos que os habitantes denominam Catabatmon, não muito longe do acampamento de Alexandre, o Grande, acima do lago Calearzo, passando próximo às terras superiores dos de Avasitas e através dos desertos da Etiópia para alcançar o Oceano Meridional. O limite ocidental da África é o mesmo que o da Europa, isto é, a entrada do Estreito de Cádiz; seus limites mais distantes são o monte chamado Atlas e as ilhas que as pessoas denominam de Afortunadas.

Agora que dei brevemente os três grandes continentes do mundo, também me esforçarei, como prometi, em apontar as divisões dos próprios continentes.

A Ásia possui no centro de seu limite no Oceano Oriental, na entrada do rio Ganges; à esquerda, encontramos o Cabo de Caligardamana, a sudeste da qual fica a ilha de Taprobana. A partir deste ponto o oceano é chamado o Oceano Índico. À direita das Montanhas Imavianas, onde termina a corrente caucasiana, encontramos o Cabo de Samara, a nordeste do qual jazem as entradas do rio Otorogorra. A partir deste ponto, o Oceano é chamado de Oceano Sérico.

Nesta região se encontra a Índia, cujo limite ocidental é o rio Indo, que deságua no Mar Vermelho, e o limite norte formado pela Cordilheira Caucasiana; os outros lados, como já disse, são delimitados pelos oceanos orientais e indianos. Esta terra tem 44 povos, não incluindo aqueles que habitam a ilha da Taprobana, que tem dez cidades, ou aqueles que vivem nas muitas outras ilhas densamente povoadas.

Entre o rio Indo a leste e o rio Tigre, que fica a oeste, estão os seguintes territórios: Aracósia, Pártia, Assíria, Pérsia e Media, terras agrestes e montanhosas por natureza. No norte são delimitados pela cordilheira Caucasiana, ao sul pelo Mar Vermelho e o Golfo Pérsico, enquanto no centro fluem seus principais rios, o Hidaspes e o Arbis. Nestas regiões há 23 tribos. A região é comumente denominada Pártia, embora as Escrituras Sagradas frequentemente a denominem Media.

Entre os rios Tigre e Eufrates está a Mesopotâmia, começando no norte entre as cordilheiras Taurina e Caucasiana. Ao sul, encontramos a primeira Babilônia, depois a Caldeia e, finalmente, a Eudaimonía Arabía, uma estreita faixa de terra voltada para o leste e situada entre os golfos Persa e árabe. Vivem nessas terras 28 povos.

Síria é o nome geralmente dado à terra que se estende desde o rio Eufrates a leste até Mare Nostrum a oeste, desde a Cidade de Dagusa, na fronteira entre a Capadócia e a Armênia, perto do local onde o Eufrates se eleva ao norte, até o sul do Egito e o final do Golfo Pérsico. Este golfo se estende para o sul em uma longa e estreita fenda em que existe uma grande variedade de rochas e ilhas; desde o Mar Vermelho, isto é, desde o Oceano, estende-se em direção ao oeste. As maiores províncias da Síria são Comagene, Fenícia e Palestina, não incluindo as terras dos sarracenos e dos Nabateus, cujas tribos são doze.

Acima da Síria está a Capadócia, que é delimitada a leste pela Armênia, a oeste pela Ásia, a nordeste pela Planície Temiscira e o Mar Cimério, e ao sul pelas Montanhas Taurinas. Abaixo dessas montanhas estão Cilícia e Isauria se estendendo até o Golfo da Cilícia, que segue em direção à ilha de Chipre.

Asia Regio, ou, para falar mais corretamente, Ásia Menor, exclusiva da parte oriental onde toca a Capadócia e a Síria, é cercada por todos os lados pela água; no norte pelo Euxino, a oeste pela Propôntida e pelo Helesponto, e ao sul pelo Mare Nostrum. Aqui se ergue o monte Olimpo.

O Baixo Egito é limitado pela Síria e pela Palestina a leste, pela Líbia a oeste, pelo Mare Nostrum ao norte e pela montanha chamada Clímax, pelo Alto Egito, e o Nilo ao sul. Este rio parece subir da costa onde o Mar Vermelho começa no lugar chamado Mossylon Emporium. De lá, flui para o oeste por uma longa distância, formando em seu meio a ilha chamada Meroé; finalmente, curvando-se para o norte, aumentado por inundações sazonais, rega as planícies do Egito. Alguns autores dizem que se ergue não longe do Monte Atlas e desaparece gradualmente nas areias, das quais, depois de um curto intervalo, desemboca em um vasto lago e depois desliza para o leste através do Deserto Etíope em direção ao Oceano, e finalmente, virando à esquerda, desce para o Egito. De fato, há um grande rio desse tipo que tem tal origem e tal curso e que verdadeiramente gera todos os monstros do Nilo. Os bárbaros perto de sua fonte chamam-no de Dara, mas pelos outros habitantes é chamado de Nuhul. Este rio, no entanto, é engolido por um enorme lago na terra do povo chamado Líbio-Egípcio, não longe de outro rio que, como já dissemos, corre da margem do Mar Vermelho, a menos que, como pode ser o caso, ele flua de um canal subterrâneo para o leito daquele rio que desce do leste.

O Alto Egito se estende para o leste. No norte está o Golfo Pérsico, ao sul do oceano. No oeste, seus limites começam no Baixo Egito, e ao leste é delimitado pelo Mar Vermelho. Nesta região há 24 povos.

Agora que descrevi a parte sul de toda a Ásia, resta-me ocupar as terras restantes, trabalhando de leste para o norte.

As montanhas Caucasianas avançam primeiro sobre os territórios dos Colquianos, que habitam acima do Mar Ciméria e as terras dos Albanos, que vivem perto do mar Cáspio. De fato, no que diz respeito a sua extremidade oriental, parece ser uma faixa, embora tenha muitos nomes. Alguns consideram estas montanhas parte das Montanhas Taurinas, porque, de fato, acredita-se que a Cordilheira Parcoatras da Armênia, situada entre as Taurianas e as Caucasianas, forma uma cadeia ininterrupta com as outras duas faixas. O rio Eufrates, no entanto, prova que isto não é verdade, pois, saindo do pé das Montanhas Parcoatras, ele se inclina para o sul, virando constantemente para a esquerda, mas mantendo as Montanhas Taurinas à direita. O Cáucaso nos territórios dos Colquianos e dos Albanos, onde também há passagens, é chamado de Montanhas Caucasianas. Das passagens do mar Cáspio aos desfiladeiros Armênios ou à nascente do rio Tigre, entre a Armênia e a Ibéria, são chamadas de Acroceraunianas. Desde a nascente do Tigre até a Cidade de Carrara, entre os Massagetas e os Partos, são chamados de Ariobarzanes. Da Cidade de Carras até a Cidade de Catipo, entre os Hircanos e os Bactrianos, são chamadas de Memarmalianas. Lá cresce amomo em abundância. As montanhas Memarmalias mais próximas são chamadas de Partau. Da Cidade de Catipo até a vila de Safri nas terras intermediárias dos Daas, Sacaraucas e Partienas são os picos dos Oscobares. Lá parte o rio Ganges e cresce a asafoetida . Da fonte do rio Ganges às fontes do rio Otorogorra ao norte, onde se encontram as Montanhas Paropanisadas, encontramos as Montanhas Taurinas. Das fontes do Otorogorra para a Cidade de Otorogorra entre os Citas Cunos e os Gandáridas estão as Montanhas Caucasianas. A faixa mais distante é o Imavo entre os Eoas e o Passiadras, onde o rio Crisoroas e o cabo de Samara encontram o Oceano Oriental. Nas terras que se estendem das montanhas de Imavo (isto é, da ponta oriental da cordilheira Caucasiana) e da divisão direita do Oriente, onde o oceano Sérico se estende até o cabo de Boréo e o rio Boréo, e daí para o mar Cita ao norte, ao mar Cáspio a oeste, e às montanhas do Cáucaso ao sul, estão as 42 tribos de hircanos e Citas que, devido à aridez das extensas terras do país, vagam por toda parte.


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