Prefácio da obra “A História contra os Pagãos” de Paulo Orósio

Se desejar adquirir a obra “A História contra os Pagãos“, clique na capa abaixo.

Você irá ler, a seguir, o Prefácio da obra. Repare como Orósio dedica seu livro a Santo Agostinho. De fato, o argumento de seu livro busca comprovar os argumentos que Agostinho apresentou em seu “A Cidade de Deus”: o desenrolar da história seria resultado da crescente presença da Igreja no mundo, e portanto, da ampliação da felicidade terrena.


Prefácio

Tenho obedecido às suas instruções, abençoado Agostinho, e minha obra pode corresponder às minhas boas intenções. Não estou certo, no entanto, de que tenha feito bem o trabalho. Você, de fato, já assumiu o fardo de julgar se eu seria capaz de fazer o que você pediu, mas estou contente com a evidência da própria obediência, caso eu tenha realmente feito justiça a essa obediência por minha vontade e meu esforço. Assim, em uma grande e espaçosa propriedade familiar, muitos animais diferentes são capazes de ajudar no trabalho da propriedade, mas o cuidado com os cães possui particular importância. Apenas estes animais são tão dotados pela natureza de forma que podem ser instigados instintivamente a fazer as coisas nas quais são treinados; através de algum espírito inato de obediência, são mantidos sob controle apenas pelo medo de certas punições, até o momento em que lhes for dada permissão, por palavra ou sinal, para fazerem o que desejarem. Na verdade, possuem qualidades peculiares próprias, tão superiores às dos brutos, que se aproximam dos seres humanos, isto é, eles distinguem, amam e servem. Quando distinguem entre mestres e estranhos, não odeiam realmente os estranhos a quem atacam, mas são zelosos por seus mestres a quem amam; em seu apego ao seu mestre e lar, eles vigiam, não porque sejam tão naturalmente dispostos, mas porque são inspirados por um amor cheio de ansiedade. Assim, de acordo com a revelação mística nos Evangelhos, a mulher de Canaã não se envergonhava de mencionar, nem nosso Senhor desdenhou ouvir, que os cãezinhos estavam comendo as migalhas sob a mesa de seu mestre. Tampouco o abençoado Tobias, seguindo a orientação de um anjo, desprezava ter um cachorro como companheiro. Portanto, uma vez que o amor que todos têm por você é, no meu caso, unido por um amor especial, obedeci voluntariamente a seu desejo. Meu humilde eu deve tudo o que realizei a seu conselho paternal, e todo o meu trabalho é seu, porque ele procede de você e retorna a você, de modo que minha única contribuição deve ser a de que eu o fiz com prazer.

Você me pediu que respondesse à tagarelice vazia e à perversidade daqueles que, distantes da Cidade de Deus, são chamados “pagãos” porque vêm do campo e dos caminhos dos distritos rurais, ou “gentios” devido a seu conhecimento em assuntos terrestres. Embora essas pessoas não busquem o futuro e, além disso, não se esqueçam ou não saibam nada do passado, ainda assim afirmam que os tempos atuais são incomumente atingidos por calamidades pela simples razão de que os homens acreditam em Cristo e adoram a Deus, enquanto os ídolos são cada vez mais negligenciados. Você me pediu, portanto, que descobrisse, de todos os dados disponíveis em histórias e anais, quaisquer que fossem os eventos passados em que ocorreram os fardos da guerra, as devastações das doenças, os horrores da fome, os terremotos terríveis, as inundações extraordinárias, as terríveis destruições pelo fogo, raios e tempestades de granizo, e também casos das cruéis infortúnios causados por parricidas e por crimes repugnantes. Eu deveria apresentá-los sistemática e brevemente no decorrer de meu livro. Não é certo, sem dúvida, que sua reverência seja incomodada por um tratado tão insignificante quanto este, enquanto você busca concluir o décimo primeiro livro de seu trabalho contra esses mesmos pagãos. Quando seus dez livros anteriores apareceram, eles, como um farol da torre de vigia de sua alta posição na Igreja, imediatamente exibiram seus raios brilhantes sobre todo o mundo. Também seu sagrado filho, Juliano de Cartago, um servo de Deus, insistiu veementemente para que eu realizasse seu pedido neste tema, de tal maneira que eu pudesse justificar sua confiança em pedi-lo.

Comecei a trabalhar e, a princípio, me perdi, pois, à medida que repassava repetidamente esses assuntos em minha mente, os desastres de meus tempos pareciam ter transbordado e ultrapassado todos os limites usuais. Mas agora descobri que os dias do passado não eram apenas tão opressivos quanto os do presente, mas que eram mesmo ainda mais terrivelmente miseráveis, à medida que estavam afastados do consolo da verdadeira religião. Minha investigação revelou, como era apropriado, que a morte e a sede por derramamento de sangue prevaleceram durante as épocas em que a religião que proíbe o derramamento de sangue era desconhecida; que quando a nova fé surgiu, a velha enfraqueceu; que enquanto a velha se aproximava do fim, a nova já era vitoriosa; que as antigas crenças estarão mortas e desaparecidas quando a nova religião reinar sozinha. Devemos, é claro, fazer uma exceção para aqueles últimos e remotos dias no fim do mundo quando o Anticristo aparecer e quando o julgamento for pronunciado, pois nestes dias haverá angústia como nunca houve antes, como o Senhor Cristo por Seu próprio testemunho previu nas Sagradas Escrituras. Naquela época, de acordo com esse padrão que agora é e sempre será – sim, por um entendimento mais claro e perspicaz –, os santos serão recompensados pelos insuportáveis sofrimentos daqueles dias e os iníquos serão destruídos.


Gostou? Leia o restante da obra, adquirindo o livro: basta clicar na capa abaixo!

Comentários estão fechados.