“Prefácio” de Terrorismo e Comunismo, de Karl Kautsky

O trecho a seguir foi extraído do “Prefácio”, da obra “Terrorismo e comunismo: Uma contribuição à história natural da revolução”, de Karl Kautsky. Caso deseje adquirir a obra completa, clique aqui.


Prefácio

O presente trabalho foi iniciado há cerca de um ano, mas abandonado como resultado da Revolução de 9 de Novembro; pois a Revolução me trouxe outras obrigações além da mera pesquisa teórica e histórica. Foi apenas após vários meses que pude retornar ao trabalho para, com interrupções ocasionais, trazer este livro para uma classe.

O curso dos acontecimentos recentes não contribuiu para a uniformidade deste trabalho. Tornou-se mais difícil pelo fato de, com o passar do tempo, o exame deste assunto ter, em certa medida, se deslocado. O meu ponto de partida representava o problema central do socialismo moderno, a atitude da socialdemocracia em relação aos métodos bolcheviques. Mas como o bolchevismo, por sua própria vontade, se referia à Comuna de Paris de 1871 como sendo, em certa medida, sua precursora e protótipo, tendo recebido a sanção do próprio Marx, e como a Comuna é pouco conhecida e compreendida pela presente geração, comprometi-me a traçar um paralelo entre a Comuna e a República Soviética.

A fim de tornar a Comuna compreensível, tive de me referir à Comuna de Paris, e depois à Revolução Francesa e seu Reino de Terror. Isto me deu novos meios para outro paralelo com a República Soviética; portanto, um exame da Comuna levou a um exame do Terrorismo, sua origem e consequências.

Assim, há duas linhas de pensamento que se fundem neste livro, uma ocasionalmente afastando-se da outra. A princípio achei isso bastante perturbador, e até considerei se não teria sido melhor dividir a obra em duas seções separadas, uma representando a apresentação da Comuna e, outra, uma discussão sobre o Terrorismo. Contudo, em relação ao meu ponto de partida, a República Soviética está tão intimamente ligada a estes dois acontecimentos da história, que me pareceu impossível tratá-los separadamente. Espero, portanto, que, apesar das dificuldades inerentes à natureza dual deste livro, eu tenha conseguido preservar a uniformidade na estrutura dos pensamentos nele contidos.

Por mais acadêmicas que o leitor possa acreditar serem muitos de meus exemplos e exposições, todos são da mais alta importância prática, especialmente em um momento tão absolutamente agitado como o atual. Isto não significa que eu tenha adaptado, por assim dizer, a verdade às necessidades do momento. Pelo contrário, sempre procurei, mesmo naqueles trechos em que me referia a um período passado, tratar apenas daquele lado do tema adequado a lançar luzes sobre o caos que nos cerca.

Se considerarmos apenas este caos tal como existe na Rússia e na Alemanha no momento presente, nossas perspectivas do momento e de nosso futuro parecem muito longe de serem animadoras. Testemunhamos um mundo afundando em ruína econômica e assassinatos fratricidas. Em ambos os países encontramos socialistas no governo agindo contra outros socialistas, com crueldade semelhante à praticada há mais de meio século pelos açougueiros de Versalhes sobre a Comuna – crueldade que, desde então, tem merecido a mais louvável indignação de todo o Proletariado Internacional.

No entanto, as perspectivas se tornam mais animadoras assim que consideramos a Internacional. Os trabalhadores da Europa Ocidental se apresentaram. Com eles, a realização de resultados reais é possível, mas apenas com métodos mais dignos do que os praticados até hoje no Leste.

Por isso, é necessário que aprendam de nós e que reconheçam os diferentes métodos de luta, bem como de construção, por seus resultados. Não se trata tanto de uma adulação cega aos métodos da Revolução até agora dominantes, mas da crítica mais rigorosa que se faz necessária especialmente no momento atual, quando a Revolução e os Partidos Socialistas estão passando por uma crise muito difícil, na qual diferentes métodos competem para ganhar a primazia.

O sucesso da Revolução não dependerá pouco de se descobrir ou não os métodos corretos para que a mensagem revolucionária seja levada ao Proletariado. Examinar métodos é, neste momento, nosso maior dever. Ajudar neste exame e, assim, promover a Revolução é o objetivo do presente trabalho.

Karl Kautsky

Charlottenburg, Junho de 1919.


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