Sexo! Ou, sobre a capa de Pscychopathia Sexualis

Uma das capas mais originais de discos de rock do Brasil é, sem dúvida, do disco Sexo! do Ultraje a Rigor, de 1987.

A qualidade da foto não é lá essas coisas. O terno do homem, por exemplo, além de amassado, com certeza pertencia a alguém muito maior que ele. As duas mulheres são muito parecidas, o que pode dar margem a confusões na leitura da imagem.

Mas a mensagem que passa é simples e genial.

O casal é apresentado a seu filho, na maternidade. As expressões faciais (mesmo que quase por detrás, podem ser identificadas) indicam, nela, satisfação, e nele, orgulho. Felicidade por um serviço bem feito, como alguém que conseguiu concluir uma negociação com sucesso.

Mas seus gestos contidos, suas roupas, a pequena bolsa e as luvas da mulheres, tudo indicam formalidade.

Mas a palavra Sexo!!, em letras corridas, gera um fabuloso contraste.

Afinal, o casal está sendo confrontando com o resultado de sua atividade sexual, mas nada, em sua formalidade e expressões, demonstram isso. O sexo está escondido, está como que esquecido, quer ser ignorado. Porém, é ele, o sexo, a coisa mais evidente da imagem. Pois só é por aquilo que se deseja tanto esconder pelo aspecto cerimonioso das atitudes, é o mais óbvio: o ato sexual.

A capa do “Psychopathia Sexualis” que bolamos para nossa edição é inspirada nessa ideia. Confira aí.

Nossa intenção foi também contrastar a formalidade da expressão do casal – fotografado, muito provavelmente, logo após seu casamento – com a ideia de “psicopatia sexual”, tradução do título da obra de Krafft-Ebing. Afinal, é por detrás da máscara da normalidade, do banal, do cotidiano, que as psicopatologias de Krafft-Ebing se revelam.

Fetichistas, masoquistas, sádicos, não possuem aparência diferente: eles se misturavam na multidão, compartilhavam a vida com as pessoas que eram, na definição do médio austríaco, “normais”.

Esse contraste, entre normalidade e perversão, parece mais evidente no rosto do casal russo, desta foto do século XIX.

No fundo, a ideia que tanto o disco do Ultraje, quanto a capa do Psychopathia Sexualis querem passar é semelhante: no interior do quarto conjugal, ninguém é normal.


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